"Minha irmã, tendo muito que fazer, ia à igreja por procuração, quer dizer, eu e Joe é que íamos. Nas suas roupas de trabalho, Joe era um característico ferreiro bem apessoado; nas suas roupas de domingo, ele parecia mais um espantalho em boas condições do que qualquer outra coisa. Nada do que ele vestia então combinava com ele, ou parecia pertencer a ele; e tudo o que ele vestia roçava na pele. Na presente ocasião festiva, ele emergiu do seu quarto, quando os alegres sinos já repicavam, parecendo o retrato da infelicidade, em um terno completo para os domingos de penitência. Quanto a mim, creio que minha irmã devia ter a ideia geral de que eu era um delinquente juvenil a quem um policial parteiro havia recolhido (no dia em que eu nasci) e entregado na porta dela, para ser tratado de acordo com a majestade ultrajada da lei. Sempre fui tratado como se eu tivesse pedido para nascer, em oposição ao que ditavam a razão, a religião e a moralidade, e contra argumentos dissuasivos dos meus melhores amigos. Mesmo quando me levaram para fazer um novo conjunto de roupas, o alfaiate recebeu ordens de fazê-las do tipo que se usava em um reformatório, e que em hipótese alguma me permitisse o livre uso dos meus membros." Pág. 17
(Trecho do livro GRANDES ESPERANÇAS, de Charles Dickens, Editora Landmark - São Paulo - 2013 - Pág. 17)
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