domingo, 2 de outubro de 2016

Poesia - Ausência, de Jorge Luís Borges


Ausência
Jorge Luís Borges 

"Eu haverei de erguer a vasta vida
que ainda é o teu espelho:
cada manhã hei-de reconstruí-la.
Desde que te afastaste,
quantos lugares se tornaram vãos
e sem sentido, iguais
a luzes acesas de dia.
Tardes que te abrigaram a imagem,
música em que sempre me esperavas,
palavras desse tempo,
terei de as destruir com as minhas mãos.
Em que ribanceira esconderei a alma
pra que não veja a tua ausência,
que como um sol terrível, sem ocaso,
brilha definitiva e sem piedade?
A tua ausência cerca-me
como a corda à garganta.
O mar ao que se afunda."

Jorge luís borges - Obra Completas 1923-1949 vol. 1
Fervor de Buenos Aires (1923)
Trad. Fernando Pinto do Amaral
Editorial teorema - 1998
😢

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