quinta-feira, 23 de junho de 2016

Filme: Ensaio Sobre a Cegueira

Título Original: Blindness
Ano: 2008 
Duração: 121 min
Direção: Fernando Meirelles
Roteiro: Don McKellar e José Saramago
Gênero: Drama, Suspense
Elenco: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Danny Glover, Alice Braga, Gael Garcia Bernal, Mitchell Nye, Sandra Oh, Yusuke Iseya, Yoshino Kimura, Don Mckellar, ... 




Oi, Pessoas!!!

O filme de hoje é baseado no livro de mesmo nome do mais que maravilhoso José Saramago. De cara já avisei sobre possíveis spoilers. Sim, sei que é chato e não gosto de fazer isso mas, acredite em mim, nada do que eu disser vai tirar de você a surpresa de assistir ao filme e vivenciar a experiência por si mesmo. Pode ter certeza! 




Chega de conversa e bora lá, comentar... 

Então, primeiro quero te alertar para o fato de que os personagens do filme e bem como do livro não possuem nomes próprios, eles são identificados por sua função no filme. São eles: O médico, a esposa do médico, o primeiro cego, a esposa do primeiro cego, o menino estrábico, a garota com óculos escuros, o velho com o tapa-olho, o ladrão, o vigilante, o cego de nascença ou contador e por aí, vai... entendido?

O Primeiro homem cego
A história começa com um carro parado em um semáforo. De repente, várias pessoas buzinando e o carro não sai do lugar. Logo somos inteirados de que o motorista está cego. Desesperado ele pede ajuda. Algumas pessoas se aproximam do carro e uma delas se oferece para dirigir seu carro e levá-lo pra casa. 

Enquanto pede informações sobre como é a sua cegueira e endereço, o cara que dirige planeja roubar o primeiro cego (Yusuke Iseya). Acredita nisso? Diante de uma situação de desespero e fragilidade, há pessoas que pensam em levar vantagem. Mas olha, essa é a primeira mas não será a única situação a te causar choque ou indignação, prepare-se. O filme parece um ringue de boxe e a gente leva um soco atrás do outro. Seja forte e prossiga porque vale muito a pena. 

O ladrão (Dan McKellar) deixa o primeiro cego em casa e foge com o carro. A esposa do primeiro cego (Yoshino) chega e providencia rapidamente uma consulta com especialista que seria - o médico (Mark Ruffalo). No consultório do médico estavam o menino estrábico com a mãe, a garota de óculos escuros (Alice Braga), o velho com o tapa-olho (Danny Glover) e a atendente do consultório.  



A consulta do primeiro cego não resulta em solução alguma. O médico alega que não conhece relatos de cegueira 'branca'. Em casa, o médico comenta com sua esposa sobre esse caso intrigante que surgiu em seu consultório. Durante a conversa é possível perceber que o casal tem uma cumplicidade típica de casais que se conhecem bem e há bastante tempo. Na manhã seguinte a surpresa - o médico também está cego. O médico liga para amigos especialistas, relata o acontecido e alerta para o fato de que, seja lá o que for essa doença, é altamente contagiosa. Ele é então, encaminhado a uma unidade de isolamento do governo, onde ficaria sob quarentena. Mas ele não vai só, sua esposa vai junto. O mesmo acontece com todos os demais cegos que tiveram contato com o primeiro cego, ou seja, todos os pacientes do médico.   



A esposa do médico conta para o médico que a unidade de isolamento nada mais é do que um antigo sanatório, vigiado por militares. O lugar é dividido em três alas, tendo algumas áreas em comum como banheiros e refeitório. Logo vão chegando mais e mais cegos. A primeira ala é a do médico, seus pacientes e mais alguns cegos, inclusive o ladrão. O ladrão é um cara abusado e impertinente. Adivinhem só, termina sendo ferido pela garota de óculos escuros quando tentou apalpá-la. O ferimento é grave e não há primeiros socorros, nem mesmo após a solicitação do médico. 

As pessoas continuam chegando e a esposa do médico tenta de todas as formas manter a organização e higiene do lugar, bem como a divisão da comida. É incrível como as instalações vão ficando sujas e desorganizadas. Fica explícito o processo de degradação do ser humano. O que constatamos é mais ou menos a máxima - "o que os olhos não vêem o coração não sente". As pessoas perdem a vaidade, não se cuidam, a higiene pessoal é a primeira a desaparecer, chegando ao ponto de andarem nus.  A aparência das pessoas vai se transformando juntamente com as condições do local.  


Nesse ponto as três alas já estão lotadas. A comida é insuficiente e o medo do contágio já é tão grande que os militares atiram ao menor sinal de aproximação ou descumprimento das ordens. E foi isso que fizeram com três cegos recém-chegados à unidade.

Enquanto isso a perna do ladrão infecciona e pelo seu estado é possível imaginar a dor que ele está sentindo. Ele sabe que a esposa do médico enxerga e afirma isso pra ela. Consumido pela dor, o ladrão decide sair das instalações e se aproximar dos militares porque sabia que assim teria fim sua agonia. Assim foi feito. 

Em determinado momento, durante a distribuição da comida, a terceira ala, composta em sua maioria por homens, se rebela e mostra mais uma desagradável faceta do ser humano - a ganância. Em seu meio existe um cego de nascença que também é um contador, um verdadeiro bandido - até arma ele possui. Assim, liderados pelo Vigilante (Gael) que se intitulou o Rei da ala 3, eles decidem monopolizar a comida recebida que só seria distribuída entre as outras mediante a entrega dos seus pertences de valor. 



Você pensa que para por aí? Nãããão! A degradação não tem fim. Exploração sexual, abuso de poder, sacrifício, espancamentos, mortes, traição, racismo, machismo, todos os 'ismos' terríveis que possam envolver as relações humanas são abordados de forma profunda nesse filme. Adoro as discussões levantadas e os argumentos apresentados. Ah, a esposa do médico é um personagem ímpar... não tem como não amar. E a esposa do primeiro cego age como eu agiria (tenho quase certeza disso). Encontre você na história - não vale ser a única que enxerga hahaha 

"Não se sabe se a cegueira espalhou o pânico ou se o pânico espalhou a cegueira."

O filme tem uma fotografia belíssima, trágica mas bela. A névoa da cegueira branca mesmo é uma coisa linda. A trilha sonora em sua maioria instrumental parece um choro... um lamento da alma. As atuações são maravilhosas e tem algumas cenas que não posso deixar de mencionar.



Tenho duas dentre as quais não consigo escolher e por isso seguem empatadas em melhor cena. São elas: a cena do Danny Glover com o 'radinho' de pilha e a música tocando... coisa mais linda ever! Todo mundo em silêncio absortos em seus pensamentos; alguns choram, outros se balançam e o menino estrábico mexendo os pezinhos no ritmo da música... simplesmente LINDO! A outra cena é a do banho de chuva das meninas ... quanta simbologia! A água que tudo limpa... que purifica... que talvez levasse embora todas as marcas daquela experiência terrível. 



Em segundo lugar o banho do 'peixe morto'... Gente, eu chorei muito nessa cena. Aquele silêncio ENSURDECEDOR... a vergonha dos maridos... a ternura das meninas na limpeza do 'peixe morto'... Fico toda arrepiada só de lembrar.

O que mais eu posso dizer? Hum... se jogue. Assista. Confira. É sofrida mas é uma experiência totalmente válida que marcará sua vida de cinéfilo. Você passará alguns dias reflexivo, se sentindo meio estranho porque a gente sempre se surpreende com a natureza humana desnuda.

Enfim... é isso. =D                     
        

2 comentários:

  1. Lilly DiCine, adorei a sua resenha!! Faz tempo que assisti ao filme e confesso que não lembro de ter percebido tantos detalhes como os que acabei de ler!! Parabéns!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, amiga!
      Muito obrigada por seu comentário. Fico feliz que tenha vindo conhecer o meu cantinho. 😍

      Excluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...